A crise na educação,ou,a construção da educação a partir da cultura.

sobre a obra
Vivemos uma época de crise na educação, violência, desinteresse, falta de direção.
Se você tiver um pouco de tempo e de paciência, leia este texto, e poderemos abrir uma discussão sobre o assunto.

A construção da Educação a partir da Cultura

Constatamos diariamente a degeneração de nosso sistema educacional, escolas depredadas, professores e alunos agredidos, professores mal renumerados relegados a meros funcionários pelos seus patrões estabelecidos, (os governos de estado), estes professores são constantemente exigidos pelo estado, pela clientela e pelo próprio corpo docente, atemorizados pela constante ameaça de comissões processantes de inquéritos e pela própria violência ao lado, vou tentar fazer de forma resumida, um raio x deste problema que ao meu ver, junto ao problema da moradia, é uns dos maiores problemas e desafios da sociedade contemporânea, queria deixar claro que eu não acredito que a solução definitiva esteja dentro dos parâmetros ao qual o atual sistema (capitalismo) tenta dar-lhe um rumo, o capitalismo enxerga a educação sobre o prisma do sistema de produção capitalista, advindo deste olhar, a adequação e uniformização o direcionar a educação adequando as necessidades da produção, só para ilustrar, hoje a informática esta sendo respirada por todos os poros do meio de produção, no mercado tem poucos profissionais especializados na área de TI, os cursos de TI estão entre os mais procurados nas faculdades e nas escolas técnicas. O salário de um profissional TI esta razoável? Em comparação a outros salários esta, mais isso é apenas uma questão de tempo, até as escolas formarem novos profissionais, daqui a alguns anos a profissão estará nivelada e os profissionais estarão recebendo salários como a maioria da população, isso é apenas um pequeno exemplo de como o sistema operaciona a educação e a profissionalização do jovem.
Vamos decorrer algumas linhas, sobre, como pensa o adolescente e o jovem das periferias, sua visão sobre a educação e a escola como instituição. Temos observado nos últimos tempos a degeneração do estado em todo o mundo, as instituições educacionais seguem juntas nesta degeneração, tínhamos há anos atrás, alunos mais subservientes, devido ao próprio sistema que era mais tirânico e ditatorial, o estado como construtor de “subjetividades” (espaço intimo do individuo/aluno com o qual ele se relaciona com o mundo social) vai perdendo sua força a partir da metade do século 20, desta forma, a escola como instituição herdou do estado burguês magnânimo a incumbência de construir estas subjetividades. Não por força de sua maior capacidade, mas sim pela total falta de capacidade do estado como construtor, a de se considerar ainda, que esta situação degenerativa não é decorrente de situações sócio/econômicas, tendo em vista que em escolas e áreas de maior poder sócio econômico e até em países do chamado primeiro mundo onde se tem maior poder aquisitivo ocorre a mesma decadência ou até maior, os adolescentes assim como os jovens, sentem esta degeneração, apesar de não terem a consciência dos seus reais problemas e soluções, eles percebem que a escola não lhes oferece “quase” ferramentas para sua inserção social, no mercado de trabalho, ocasionando desta inserção uma melhoria de vida, temos que levar também em consideração, que os apelos do capital para o consumo desenfreado não estão atendendo as finalidades aos quais foram desenvolvidos, os jovens percebem que não conseguem consumir com seus parcos salários recebidos no mercado de trabalho. Ocasionando assim um grande inconformismo, é uma verdadeira faca de dois gumes estes apelos do capital, uma bomba com hora marcada para explodir. Basta conversar com um professor e pedir alguma garantia de que um aluno se formando ele estará com um bom salário garantido, nenhum professor garante nada hoje em dia. Partindo desta premissa, o aluno perde totalmente o vinculo da escola como instituição. Os adolescentes criticam o colégio onde estudam, para eles o colégio é sempre pior do que outro qualquer; no estudo fundamental as crianças atrelam sua ida a escola unicamente a uma questão de alimentação. Portanto, pensam mais na merenda do que qualquer resolução de problemas de matemática ou pronome ou verbo. No caso do ensino médio a coisa se complica mais ainda, na maioria das vezes o adolescente ou jovem se sente constrangido em se alimentar. Muitas vezes as escolas não servem refeições para o ensino médio, gerando mais um fator de desinteresse pelos estudos, se o estado não garante e patrocina esta inclusão no mercado de trabalho, com salários justos para uma vida digna, a escola não oferece ferramentas e segurança para esta inclusão, sobra ao jovem recém formado as filas de emprego, as entregas de currículo, quando conseguem emprego na área interessada, é como trainee, estagiário ou aprendiz, na realidade o sistema sempre divulgou que era o único a dar oportunidades para quem assim o desejasse, sem o sistema capitalista jamais haveria a oportunidade de progresso material e social, este argumento cai por água a baixo diante a realidade que o jovem enfrenta no seu dia a dia, restando ao adolescente e ao jovem subempregos e nada mais, sem falar do nível destas faculdades que esta bem abaixo do exigido, exemplificando em 2008 o exame para médicos do Cremesp reprovou 61% dos participantes, se tecnicamente foram reprovados (os estudantes estão se formando sem conhecer o básico), fico imaginando como esta o preparo para a evolução intelectual destes estudantes. Isto é um fato constatado, inclusive pelo governo federal, uma boa parte das crianças que chegam a 5.a serie não sabem ler, destes que sabem ler grande parte não conseguem entender o texto.
O que mais chama a atenção é que, na realidade educativa de muitas das grandes cidades, a Igreja adere mais aos discursos e às práticas que aprofundam sobre as diferenças entre o Estado desarticulado e o Estado privatizado para poucos de nossa segunda camada.
A busca e a iniciativa de uma educação nova, realizada através da construção de um Estado novo, surge então da própria comunidade e funciona quando o Estado a assume como própria em suas instituições. Isto implica necessariamente encarnar a educação na cultura.
Neste ponto, chegamos literalmente à camada mais profunda. A cultura como produção de uma comunidade concreta com práticas, valores e códigos. Podemos aprofundar nesta concepção simples, através de uma expressão revitalizada: a cultura popular. As crianças e os adolescentes dos bairros pobres chegam à escola, ao centro de apoio escolar, à creche comunitária, trazendo sua própria cultura. A comunidade, geradora viva desta cultura, demanda, cria condições e dá vida às instituições. Esta cultura penetra nelas, como uma luz que se infiltra inevitavelmente através das aberturas e dá forma aos espaços.

Vamos ler o que diz o Professor Bernardo Politi, Buenos Aires-Argentina.

“O que mais chama a atenção é que, na realidade educativa de muitas das grandes cidades, a Igreja adere mais aos discursos e às práticas que aprofundam sobre as diferenças entre o Estado desarticulado e o Estado privatizado para poucos de nossa segunda camada.
A busca e a iniciativa de uma educação nova, realizada através da construção de um Estado novo, surge então da própria comunidade e funciona quando o Estado a assume como própria em suas instituições. Isto implica necessariamente encarnar a educação na cultura.
Neste ponto, chegamos literalmente à camada mais profunda. A cultura como produção de uma comunidade concreta com práticas, valores e códigos. Podemos aprofundar nesta concepção simples, através de uma expressão revitalizada: a cultura popular. As crianças e os adolescentes dos bairros pobres chegam à escola, ao centro de apoio escolar, à creche comunitária, trazendo sua própria cultura. A comunidade, geradora viva desta cultura, demanda, cria condições e dá vida às instituições. Esta cultura penetra nelas, como uma luz que se infiltra inevitavelmente através das aberturas e dá forma aos espaços”.
Como bem vemos, existe uma diversidade cultural enorme dentro de uma escola, principalmente as publicas e de periferia, uma grande riqueza a partir de poucos metros quadrados, alunos que gostam de RAP, Rock, Sertanejo, POP, Eletrônica, etc, etc, quanto aos desenvolvimentos então, os Nerds nada mais são do que os diferentes, são grupos de cultura própria também, os grupos de domínio dentro das escolas são grupos onde predomina a sua hegemonia cultural, os evangélicos, católicos, etc…como se vê são muitas nações dentro de uma escola e como conviver com todos estes grupos diferentes no pensamento religioso, na cultura, nível social, “CONSTRUINDO A EDUCAÇÃO A PARTIR DA CULTURA”. Ao contrario do que acontece hoje em dia, quando se continua construindo a cultura a partir da educação e sendo a cultura muitas vezes relegada a zero.

Continuando com as palavras do professor Bernardo Politi:

A cultura dos setores mais pobres é o reflexo da situação de precariedade e vulnerabilidade da própria vida. Isto lhe dá uma complexidade maior: um olhar simples poderia, inclusive, fazer-nos pensar em uma diferenciação entre as práticas, valores e linguagens dos avós, antigos migrantes do campo à cidade, trabalhadores, e a linguagem das crianças e adolescentes, mais ligadas à violência urbana, à linguagem dos “mass media” e ao consumo fragmentado. Isto é verdade, mas há uma série de valores muito enraizados que perduram nas tradições familiares. Os valores da solidariedade entre vizinhos, a defesa da família e traços que aparecem na linguagem estão ligados às gerações. Simplesmente, o que ocorre é que, na educação mais estruturada, esta cultura não se manifestava ou era diretamente negada.
A cultura da comunidade vai dando forma à educação. A relação com esta faz com que a escola modifique suas práticas e, sobretudo, a forma de utilizar a linguagem, a forma de vincular-se às pessoas e aos conhecimentos. A isto devemos somar uma complexidade a mais. A cultura dos pobres sofre mais ameaças: a discriminação, a repressão, a incerteza sobre o futuro, a precariedade. Estas ameaças obrigam a repensar a educação em sua profunda busca de construir “pessoas”. A educação deve assumir estas ameaças; a escola deve contê-las e iniciar um diálogo intercultural entre os educadores e os alunos, os pais, os jovens. Sem esta prática permanente de diálogo inter-cultural e também intra-cultural da comunidade consigo mesma, a educação
torna-se impossível. Na realidade, foi isto que entrou em uma crise irremediável, o discurso unilateral de uma cultura imposta, com sua linguagem, suas práticas e seus valores. Isto, que o Estado já não faz, mas o mercado, funciona em quase todos os âmbitos, mas não no educativo. Ali parece falhar, talvez porque o mercado não possa construir “pessoas”, produza só consumidores (de sapatos, drogas, celulares…). Não pode garantir, nem sequer proporcionar ilusão com relação à inclusão e à projeção para o futuro.

É toda uma complexidade cultural, que até alguns anos atrás não tínhamos nas escolas. Ficamos parados, tentando entender qual a melhor forma para conduzirmos esta e nesta complexidade e não evoluímos. Diante desta falta de vínculos dos estudantes pela escola, com o qual vivemos atualmente, urge a necessidade de construirmos a educação a partir da cultura, que ela respeite o individuo e sua cultura, que ela seja intercultural, que ela promova a aproximação entre toda a comunidade envolvida. Que o conhecimento seja transmitido a partir da cultura desta comunidade. Exemplo, o que é bom para uma escola do nordeste brasileiro, pode não ser bom para uma escola do sudeste ou sul,

Tudo isso gera um trabalho hercúleo. O próprio pensar um novo sistema educacional, a estruturação, os velhos arcaicismos incrustados no sistema educacional vigente, sabemos que é uma engrenagem emperrada, enferrujada, mais sem este trabalho, corremos o risco de ver a educação definhando, morrendo, cada vez mais elitizada, privilegiada para as elites burguesas. Nossas crianças, com certificados de conclusão e sem conseguir entender qualquer romance por mais simples.
Esta aberto a discução.
Orlando Rocha
Villorblue

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